Milhares de prisioneiros nas ruas. Rebeldes sírios arrombam celas e denunciam abusos do regime

por Joana Raposo Santos - RTP
Ao longo dos anos, vários relatos de torturas e execuções mancharam o regime da família Assad. Foto: Anadolu via AFP

Milhares de pessoas estão a ser libertadas de prisões sírias depois de os rebeldes terem tomado o controlo de várias cidades no fim de semana, incluindo a capital, Damasco, forçando o presidente Bashar al-Assad a fugir do país. As principais cadeias da Síria receberam mais de 100 mil prisioneiros ao longo de 14 anos de guerra civil. Agora, surgem relatos de pessoas detidas em celas subterrâneas escondidas, incluindo mulheres e crianças.

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram homens a correr para o exterior de prisões, confusos sobre os motivos pelos quais estavam a ser libertados e a gritar “Deus é grande”.

Alguns foram recebidos por membros da família em lágrimas, que até agora não sabiam se os homens estariam vivos. Outros estavam detidos há tantos anos que não sabiam que Bashar al-Assad tinha sucedido ao seu pai, Hafez, que morreu em 2000.

Noutros vídeos, os rebeldes abrem as portas das celas onde se encontram dezenas de mulheres e pelo menos uma criança, dizendo-lhes para não terem medo e libertando-as. “Assad caiu. Não temam”, afirma um homem numa das gravações.Ao longo dos anos, vários relatos de torturas e execuções mancharam o regime da família Assad.

As celas da principal prisão síria, Saydnaya - onde imagens de satélite revelaram que em 2017 foi construído um crematório usado para incinerar corpos de prisioneiros - também foram arrombadas pelos rebeldes.

A organização de defesa civil conhecida como Capacetes Brancos disse estar a investigar relatos de prisioneiros libertados de Saydnaya segundo os quais há outras pessoas detidas em celas subterrâneas escondidas.

“Os Capacetes Brancos enviaram cinco equipas de emergência especializadas para a prisão de Saydnaya para investigar celas subterrâneas escondidas que, segundo os sobreviventes, alojam detidos”, anunciou o grupo na rede social X.

“As equipas são constituídas por unidades de busca e salvamento, especialistas em arrombamento de paredes, equipas de abertura de portas de ferro, unidades caninas treinadas e pessoal médico. Estas equipas estão bem treinadas e equipadas para gerir operações tão complexas”, acrescentou.


As autoridades de Damasco disseram, por sua vez, continuar a libertar prisioneiros, alguns dos quais estavam “quase a asfixiar” devido à falta de ventilação nas celas de onde foram retirados.

O governador da província de Damasco apelou nas redes sociais aos antigos soldados e trabalhadores prisionais do regime de Bashar al-Assad para que forneçam às forças rebeldes os códigos das portas eletrónicas subterrâneas.

Até agora, já terão conseguido abrir portas suficientes para libertar “mais de 100 mil detidos que podiam ser vistos nos monitores das câmaras de vigilância” das prisões.
"Damasco livre"
As forças rebeldes avançaram de cidade em cidade ao longo da Síria, libertando prisioneiros das cadeias do Governo durante o caminho. O movimento de libertação acontece depois de, no sábado, os rebeldes sírios terem tomado o controlo de Damasco, levando à fuga do presidente Bashar al-Assad.

"O tirano Bashar al-Assad fugiu (...), proclamamos a cidade de Damasco livre", anunciou a coligação de grupos rebeldes em mensagens partilhadas na plataforma Telegram.

"Depois de 50 anos de opressão sob o poder do [partido] Baas, e 13 anos de crimes, de tirania e de deslocações [forçadas] (...), anunciamos hoje o fim deste período negro e o início de uma nova era para a Síria", acrescentou.

Estes grupos lançaram uma ofensiva relâmpago na Síria a 27 de novembro. Vários territórios e principais cidades foram rapidamente tomadas, com pouca resistência por parte do Exército sírio.

Enquanto o Irão e a Rússia revelaram desânimo com os desenvolvimentos na Síria, a Ocidente várias nações demonstraram satisfação pela queda do regime, mas também precaução face à incerteza do rumo político no país.

c/ agências
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